A romantização do equilíbrio: o que ninguém comenta. ⚖️ #009
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A romantização do equilíbrio: o que ninguém comenta. ⚖️ #009

Thiago Chiká
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Na última quarta-feira, eram quase 20h depois de um dia cheio de trabalho. Resolvi abrir meu Instagram para responder algumas mensagens no direct. Entre elas, um rapaz de 19 anos me perguntou sobre a minha rotina.

Curioso, queria entender qual era o meu “80/20” - referência ao princípio de Pareto que foi adotado pelos famosos “influenciadores de alta performance”. Basicamente, senti que ele queria entender como fazia para acordar às 5h, entrar em uma banheira de gelo, treinar, meditar, ler um livro e ainda ter disposição para alcançar meus objetivos ao longo da semana.

Observação importante: eu não faço nada disso.

Foi aí que me peguei pensando: quantas pessoas vivem presas nessa busca por um equilíbrio idealizado, tentando replicar vidas que não são as delas? Eu mesmo já fiz e constantemente me pego fazendo isso.

Se você está buscando uma resposta exata, um hack infalível ou uma fórmula mágica para equilibrar todas as áreas da sua vida, sugiro que pare de ler agora. Porque, sinceramente, eu ainda não consegui encontrar.

Nos últimos anos, enquanto construía a ACTO, não consegui manter uma rotina consistente de treinos, cuidar da alimentação como deveria ou dar a atenção necessária à minha saúde de forma geral. O tempo dedicado a estudar, ler livros e me atualizar também ficou aquém do ideal. Eu não consegui fazer tudo. E sabe o que percebi? Quase ninguém consegue, pelo menos não durante momentos de aceleração e construção.

Isso não significa que devemos ignorar nossa saúde, nossas relações ou nosso desenvolvimento. Mas é preciso entender que equilíbrio não é ter tudo em proporções iguais o tempo todo. Não se trata de dividir o dia em fatias perfeitas de produtividade, lazer e descanso, como se a vida fosse um gráfico de pizza. O equilíbrio real está em aceitar que algumas coisas vão ficar de lado por um tempo — e tudo bem.

Ao longo do tempo, percebi também que é muito perigoso acompanhar pessoas que admiramos sem refletir sobre o contexto delas. Eu também acompanho gente que admiro, assim como você provavelmente faz. Mas o problema começa quando essa inspiração se torna algo automático, quase “burro”.

Sabe quando você vê aquele influenciador ou empreendedor que acorda às 5h da manhã, treina, lê três livros por semana e ainda parece ter uma rotina impecável? Aí você pensa: “É isso que preciso fazer para alcançar os mesmos resultados que ele.”

Mas tem um detalhe importante — a rotina que você vê hoje, essa “rotina de sucesso” que parece perfeita, provavelmente não foi a mesma que essa pessoa teve enquanto estava construindo algo grande. Quando alguém alcança um certo nível de sucesso, junto com ele vem mais tranquilidade financeira, que traz facilidades, economiza tempo e poupa energia mental. E isso muda completamente o jogo.

Além disso, existem os diferentes contextos e fases de vida. Se você tem filhos, suas demandas são completamente diferentes das de alguém que está começando a carreira ou de uma pessoa que trabalha 16 horas por dia para alavancar um negócio. Tentar replicar a rotina de outra pessoa sem considerar essas diferenças é pedir para se frustrar.

E é aí que mora o perigo. Quando você tenta viver a vida de outra pessoa e não consegue, começa a achar que o problema está em você. Que você não é bom o suficiente, que deveria estar fazendo mais. E essa comparação pode te afastar da vida incrível que você poderia estar vivendo, focando no que realmente importa para você.

Porque a verdade é essa: cada escolha traz uma renúncia. Trabalhar mais pode significar abrir mão de tempo com a família. Cuidar da saúde pode significar adiar um projeto importante. O equilíbrio não está em fazer tudo, mas em decidir o que é mais importante em cada momento. O que você não está disposto a sacrificar? O que é essencial para você?

Essas perguntas são profundamente pessoais, e a resposta só pode vir de dentro. Não adianta tentar copiar a rotina de outra pessoa. O que funciona para ela talvez não funcione para você. O equilíbrio é único para cada um de nós. E tentar buscar o equilíbrio de outra pessoa é a receita mais rápida para perder o seu.

Construir algo grande exige sacrifícios. Não dá para alcançar resultados extraordinários sem abrir mão de certas coisas. E, quanto mais alto o nível do jogo que você quer jogar, maior será o preço. Isso não é um problema – é uma escolha. O segredo está em decidir quais são as renúncias que você consegue suportar e quais são aquelas que você não está disposto a fazer de jeito nenhum.

Não acho bonito normalizar a correria a ponto de negligenciar a saúde ou as relações pessoais. Mas é preciso reconhecer que escolhas implicam custos. Não dá para fugir disso.

Por fim, equilíbrio não é sobre ter tudo, mas sobre priorizar o que é essencial e estar em paz com o que ficou de fora. É entender que momentos de desequilíbrio não são um erro, mas parte do processo — especialmente quando estamos construindo algo significativo.

Pensando bem, talvez a palavra “equilíbrio” nem seja a melhor forma de enxergar isso. Prefiro “harmonia”. Porque harmonia não é algo que acontece todos os dias, de forma perfeita. Ela é o resultado de escolhas feitas ao longo do tempo. É entender que, em alguns momentos, a vida vai exigir mais de um lado do que de outro — e está tudo bem.

Harmonia é saber que, quando estamos felizes no trabalho — energizados pelo que fazemos, sentindo que estamos contribuindo e crescendo —, isso pode nos tornar melhores em casa. E, da mesma forma, quando estamos bem com quem somos fora do trabalho, isso reflete na forma como lideramos, criamos e colaboramos. Mas isso não acontece o tempo todo, nem de forma equilibrada. É algo que se constrói.

Talvez não seja possível viver tudo de forma perfeita agora, mas, com o tempo, é possível alinhar o que importa de verdade e criar um ciclo positivo entre as áreas da nossa vida. Viva. Escolha. E, acima de tudo, busque o que é seu — aquilo que ressoa com sua essência, e não com as expectativas alheias.

No final, harmonia é isso: priorizar o que faz sentido em cada fase, aceitar os momentos de desequilíbrio como parte da jornada e entender que o alinhamento que buscamos vem de escolhas consistentes — e não de tentar fazer tudo ao mesmo tempo. Afinal, o que é essencial para você não precisa ser o mesmo para os outros. E é nesse entendimento que começamos, pouco a pouco, a construir a vida que realmente desejamos.

Abraços,
Thiago Chiká
Fundador e CEO da ACTO